quinta-feira, 5 de outubro de 2017

sobre olhos






os olhos manejam os olhos
e marejam noutros lagos
sempre se largam lerdos
nos mesmos carnavais

os olhos farejam paisagens
se infiltram, se disfarçam, se desfazem
os olhos transbordam se aos mares
quando se regaçam
e corajosos
os olhos
se olham

ora os olhos se pedem
ora os olhos se despedem
ora os olhos se devoram

os olhos escorrem-se em lumes
e chora betumes
quando se irritam em qualquer demora

os olhos
embora em vão
se vão embora

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Sueli, sumiu do salão

Doutora Sueli sumiu do salão;
Deve de ser esta crise que está engolindo a todos;
Será que ela engoliu a Sueli? OPS Doutora Sueli.
Doutora advogada, mas sem OAB;
Esposa do Senhor Alfredo, funcionário da empresa de aviões;
Alfredinho é chefe – dizia Sueli;
Mas descobrimos por outras clientes,
Que os maridos também lá trabalham
 Alfredo era apenas um encarregado.
Não que quiséssemos fuxicar a vida alheira;
Mas Doutora Sueli era de por muita banca.
Sempre achei que ela vinha no salão pela amizade antiga com Georgina,
Georgina é uma de nossas cabelereiras estudaram juntas em colégio público.
Com quem Sueli, sim Sueli para as favar com a Doutora, conversava,
Ou melhor falava, e falava muito, a pobre Georgina era só ouvidos.
Sueli tentava se mostrar muito culta e atualizada e realizada;
Os assuntos eram as manchetes, as redes sociais e a desgraça do povo
Os méritos, tudo era por méritos; seu estudo, o cargo do Alfredinho.
Quando estudávamos morávamos na periferia, não era Georgina?
Georgina acena que sim, pois mora lá até hoje.
Hoje moramos eu e o Alfredinho num bairro com muitos edifícios, charmoso.
E o melhor cheio de gente bonitas;
Oh Sueli, cá entre nós em beleza Georgina dá de Dez a zero em você.
E já falaram aqui, que Alfredinho comentou na fábrica que se não fosse pelo
Financiamento a perder de vista, não tinha nem comprado o apartamento.
Mas a língua de Sueli era afiada, escolhia o assunto
E na uma hora que aqui estava, o ficava ruminando,
Somente com o ponto de vista dela, era Doutora.
Ela dizia sempre se dirigindo a Georgina,
Semana passada fomos na Pizzaria tal, Georgina sabe quem estava lá?
Na mesa do nosso lado? Isso mesmo, o deputado.
Almoçamos domingo do restaurante Y, do ladinho de
Fulana e Cicrana, são socialites da cidade.
Mas Sueli tinha sua vertente política, quem imaginaria?
Quando o povo brasileiro aprender a ver as coisas direito, aí sim ia melhorar.
Para que bolsa família? É incentivar vagabundo a não querer trabalhar mesmo,
Faculdade, olha tem que ter, quem já tem uma bagagem,
 Não é para qualquer um não,
Agora todo mundo vai querer se formar ter diploma, como alguém que mora em
Dois cômodos de fundo vai ser um advogado, engenheiro, arquiteto?
Georgina é cabelereira autodidata, e das melhores, Sueli nem OAB tem;
A cunhada dela disse uma vez, como assim sem querer,
Que ela tentou o exame quatro vezes, não conseguiu passar. Desistiu.
Georgina, o povo brinca nas redes que agora todo mundo só quer viajar de
Avião, fui nas férias do Alfredinho para Natal, querida,
Aeroporto parecendo rodoviária em feriado. Que povo feio viajando.
Não é à toa que falam que são as empregadas, e vão levando pai mãe e avó.
E o carro novo do Alfredinho? Neste dia o salão inteiro teve que escutar
Sueli e Alfredinho comprando um carro novo na concessionária;
Se é para ter um carro bonito e caro quero ele completo;
Já fui falando desde de casa para o Alfredinho;
Que carro! Não vou contar mais em consideração ao leitor;
Tem certas coisas que não merecemos ouvir.
Mas Sueli sumiu do salão;
Georgina sempre muito discreta, não falou mais da amiga
Perguntou se a algumas clientes;
Aquelas que os maridos também trabalhavam com o Alfredinho.
Trabalhavam.
Alfredinho foi demitido, pode coitado;
Ninguém merece ficar desempregado e ter uma mulher como a Sueli;
É duplo castigo;
Sueli falava muito no que tinha; mas como descobrimos era tudo no carnê
Tinha muito mas devia muito; não sabia que viria a crise;
Disseram que o que recebeu de longos anos de trabalhos,
Não deu nem para quitar metade dos carnês;
Ela nem se apercebeu do que estava acontecendo;
Quando veio aqui e mandou pintar de esmalte verde e amarelo
Suas longas unhas para ir na manifestação do Domingo;
Nem quando na época das eleições se despedia de todos dizendo:
Olha lá pessoal Brasil prá frente só com Aécio Presidente;
Pobre Sueli, foi o pó do Aécio, mas com seu esmalte verde e amarelo ela
Ajudou a tirar a Presidenta.
E como prêmio ganhou o desemprego do Alfredinho.Oh! Que Crise.
Disseram, não sei se é verdade;
Que Alfredinho tem agora uma lanchonete
Mas será que Sueli é garçonete?
Não acredito, com sua pompa deve de querer ficar no caixa.
Georgina é muito quieta e discreta;
Mas se uma fica quieta outra conta; e me contaram
Georgina continua a tingir e cortar os cabelos de Sueli;
Não no salão, mas em sua casa;
Nossa a doutora Sueli indo na periferia? Não.
Desde que Alfredinho ficou desempregado,
Eles se mudaram para uma casa na mesma rua de Georgina.
É Sueli, voltou para a periferia;
Segundo Georgina ela continua com as mesmas conversas;
Coitada da Georgina, continua sempre escutando.
O porque que a Sueli Sumiu do salão.            


   [ Boanesio Cardoso Ribeiro ]

sábado, 23 de setembro de 2017

SOU LUA





Eu corpo celestial
Fora do Normal
Reflito a luz
Fases que me conduz 
Ciclo de emoções 
Vivo entre constelações 
Me faço NOVA 
Transição do fim da escuridão para claridade 
Sigo com positividade
E assim CRESCENTE
Tão linda e brilhante 
Inevitável não se encantar por um instante 
Me torno CHEIA
Acúmulo sorrisos, expectativas, amores
Ou será frustrações e dores?
Termino MINGUANTE 
Chego a minha decadência 
Perco o brilho por bobagens e carência
Assim sou feita, sou fases, sou lua...


                                          


                                                                                                                                      Morena Lis



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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Mariana 

Hoje estou cheias de crateras áridas.
 Do meu corpo extraíram tantos substratos. Dentro de mim depositaram tanto lixo.
Fui consumida e sem pudor. Fui tocada como um objeto. Fui e ainda sou considerada apenas uma propriedade.
Nesta relação desigual me rendi, me humilhei e me senti impotente diante do Homem execrável.
Suas armas devastadoras fizeram tremer minhas entranhas e em mim surgiu uma ferida física e psicológica.
Minha integridade foi violada.
Gradativamente algo insólito me fez sentir o peso da agressividade que eu sofri em meu próprio corpo, precisamente nos meandros do meu ferimento.
Um ferimento cicatrizado com cimento entre outras substâncias enrijecedoras. Tão secas, tão duras e tão susceptíveis à trincas.
E de uma única trinca, um dia senti escorrer um fio líquido espesso e escuro.
Um grito mudo de Gaia e subitamente aquele fio líquido adquire uma configuração de onda. Uma onda de lama que desliza sobre minha pele úmida e viçosa.
Era tanta lama, que muitas vidas em mim foram sufocadas e muitas saíram de mim. Foram ocupar outros espaços que não os meus.
Meus espaços agora estão ocupados por uma lama pútrida. 
Meus líquidos e meu corpo foram moldados pela lama. 
Perdi a liberdade de crescer com leveza. Estou intoxicada e muito de mim está morto. 
Levará muito tempo para eu me desintoxicar e retomar minha vida.
Uma vida simples. O cumprimento do sol. Os pingentes do orvalho nas teias de aranha. Adorava o aroma da geleia com pimenta. O aroma do feijão da casa de Maria. O vai e vem daquelas pessoas que me amavam e me adubavam para eu crescer entre cores e perfumes. A sinfonia das vozes de todas as idades.  O amor que eu sentia era pelo olhar, pelo toque das mãos, pelos presentes que eu recebia como um limoeiro, horta, galinhas. Pelo  valor que me davam, quando percebia o brilho nos olhos daqueles que comigo compartilhavam suas conquistas. A manta da noite e sua orquestra de sapos. O perfume da terra exalado ao toque da água das chuvas.
Amputaram esta minha vida construída com gente.
Meu nome é Mariana, fui estuprada por Samarco e sofro até hoje violência institucional.

domingo, 17 de setembro de 2017

LHE ROUBARAM A ESPERANÇA?





“Por que tenho um varal de esperanças
Na porta da frente do coração
 E vento nenhum carrega.”
 (Mariane Braga)

Se você já não enxerga perspectiva, despreza políticos e a politica, não suporta mais a violência e os problemas do cotidiano; se sempre espera o pior é um sinal de que lhe roubaram a esperança.

Se desacredita na raça humana, se usa as redes sociais para propagar seu ódio, se não acreditas mais em ninguém e almeja “comer “ também  uma fatia desse bolo da corrupção. Esteja certo, que lhe roubaram a esperança.

Se Não cultivas mais seus sonhos, se não assume mais o protagonismo da sua vida e está vivendo por viver, se confia apenas na sua conta bancária e faz de tudo para subir na vida; tenho algo a lhe dizer: roubaram-lhe a esperança.

O mundo diariamente tenta nos fazer abdicar da esperança. Então o caminho quase que natural introjetarmos culpa, ou jogar nos ombros de outrem todos os males que nos afligiram. É mais simples! “Já que o problema não é meu“, fugimos da responsabilidade  de solucioná-lo.

Você como eu, como vitimas de  promessas, que se transformaram rapidamente em ilusões, e repetidamente tomamos atitudes e/ou escolhas que culminam em frustrações. Ainda assim, não podemos permitir que nos roube a liberdade contida no ato de esperançar. Vislumbre o passado e reconheça o quanto já venceu... Tudo o que já superou! Com certeza essas memórias o projetaram para um futuro de possibilidades.

Encare o futuro como uma colheita. Possivelmente não colha o que espera hoje, mas o primordial é que morra constantemente a semente. (Semente para dar fruto precisa morrer na terra, desapegue-se dela!)

A partir do momento que se condicionar no contexto de uma semente e escolher matar dentro de ti, todo rancor, pessimismo, aflição, abandono, falta de perdão... Terás a possibilidade de esperança em um amanhã. Não espere cair do céu; arregace as mangas e faça acontecer!

Com fé creia; com amor acolha; e com confiança construa. Quando nada mais lhe parecer valer a pena, reúna as penas, as aproveite para criar novas asas e voe. Acreditar novamente que o “voo” é possível, é a melhor forma de recuperar a genuína esperança de que está nas suas mãos o poder de fazer o diferente acontecer.




Mariane Helena

OBSCURA

Talvez as lágrimas sejam as palavras amargas, ou todo mentira escondida atrás do sorriso. As escrevi, machadadas com a minha dor salgada.
Coloquei tudo no papel em seguida pisei, mas nada aconteceu, então rasguei, achando que aliviaria ou me tiraria a raiva. Inútil.
Era o fim. Tinhas algumas opções, me afogar em lágrimas, me jogar do precipício da decepção ou me sufocar com a própria indignação.
Acordada em um pesadelo, adormeci pelo desespero. Matei as angústias e assim deixei de existir.


                                                                                                                                                                     Morena Lis